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Beber sumo de aipo desintoxica o organismo?

22 Nov 2023 - 09:37
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Beber sumo de aipo desintoxica o organismo?

O aipo é o protagonista de vários vídeos do TikTok em que se partilha receitas dos famosos “sumos detox”. Segundo vários criadores de conteúdo, beber um sumo de aipo caseiro desintoxica o organismo.

Nestas publicações alega-se ainda que esta bebida “combate a retenção de líquidos e o inchaço”, reduz a “inflamação”, “apoia a digestão”, “elimina as toxinas”, “acelera a perda de peso”, “reduz o colesterol”, “protege o fígado” e “estimula o sistema imunitário”. Mas confirma-se que o sumo de aipo desintoxica o organismo? 

É verdade que o sumo de aipo desintoxica o organismo?

Em declarações ao Viral, Conceição Calhau, nutricionista e coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição e do Mestrado em Nutrição Humana e Metabolismo da NOVA Medical School, adianta que não existe nenhum alimento ou bebida – “seja o aipo, o agrião ou a beterraba” – que “desintoxique, pois esse é um processo feito naturalmente pelo organismo.

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Esta ideia errada leva “as pessoas a assumirem um conjunto de comportamentos iguais e inadequados, do ponto de vista da alimentação”, salienta a nutricionista.

Por norma, “começam o ‘detox’ de manhã, mas depois, durante todo o dia, fazem os erros alimentares que lhes apetece”, porque veem esta prática como uma “pílula de desintoxicação” e como uma “cura para todos os males”. 

No fundo, resume Conceição Calhau, “o aipo é um alimento importante e nutricionalmente rico”, que pode ser “introduzido numa alimentação” variada e equilibrada. 

Contudo, o aipo não deve ser encarado como “um superalimento”, nem como “um medicamento” e não tem “um poder detox”

Quais os riscos associados aos sumos detox?

Segundo a professora da NMS, é importante salientar dois principais riscos relacionados com os sumos detox. Em primeiro lugar, “muitas vezes, fazem-se receitas com índice glicémico elevado”, salienta. 

Por norma, nestes sumos coloca-se “aipo, espinafres, ou agrião”, mas há quem adicione também “duas ou três unidades de fruta” e isto, regra geral, “faz subir a glicose no sangue acima do que é necessário e adequado”, explica Conceição Calhau.

Noutro plano, há o risco de a “receita ter um conjunto de fitoquímicos que, nessa dose, por estarem muito concentrados, e se forem consumidos de forma crónica”, podem provocar “toxicidade hepática”.


Como? O conceito de detox vem da capacidade que estas receitas têm de “estimular enzimas hepáticas”, quando “ingeridas acima das doses nutricionais”, começa por explicar.

“Estas enzimas estão associadas à eliminação de carcinogéneos e fármacos, mas ao serem super estimuladas, pode haver uma grande eliminação das hormonas da tiróide, que também usam as mesmas vias”, sustenta.

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Por essas razões, na visão da especialista, deve-se seguir “uma regra muitíssimo importante na alimentação” que passa por ter atenção às quantidades ingeridas, já que “a dose faz o veneno”. 

Portanto, frisa, “não é porque uma coisa é muito boa que devemos fazer mais do que a dose diária recomendada”. 
Qual é, então, a dose recomendada para o aipo? Este alimento deve estar incluído na “fatia de hortícolas que se come diariamente”.

Sendo que é preciso “responder a uma necessidade diária de 25 a 30 gramas de fibra por dia”, recomenda-se a “ingestão de cerca de 400 gramas de hortícolas”, aponta. Na prática, isto significa o consumo de “sopa” e “hortícolas cozinhados”, em que o aipo poderá estar presente. 

Quais as vantagens nutricionais do aipo?

Apesar de não ter um poder detox, a verdade é que “o aipo é extremamente rico do ponto de vista nutricional, a nível de fibra e de fitoquímicos (como compostos fenólicos), que têm um efeito antioxidante e anti-inflamatório”, sustenta Conceição Calhau.

Além disso, “o aipo é rico em inulina”, “um tipo de fibra muito associada à perda de peso”. Por que razão é feita esta associação? 

Primeiro, a população no geral “ingere pouca inulina”, tendo “um padrão alimentar geral de amido, arroz, batata/massa/pão, e fruta e doces”, justifica a nutricionista.


Neste contexto, não se cumpre “a outra fatia de fibra que vem, sobretudo, dos hortícolas e dos cereais” – consumidos, muitas vezes, já refinados. Verificando-se uma “alimentação pobre em fibra, perdem-se as bactérias que se alimentam dessa fibra”.


Segundo Conceição Calhau, “essas bactérias, quando estão em menor quantidade no intestino, estão muito relacionadas com a dificuldade de gestão de peso”.

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Portanto, a ingestão de inulina “não vai propriamente dissolver a gordura no organismo”, mas é uma “fibra importante”, que deve ser incluída na alimentação.

Noutro plano, na perspetiva da nutricionista, de facto, “os hidratos de carbono, a proteína e a gordura” são importantes. Mas, ao contrário do que se pensa muitas vezes, é necessário “ir buscar outro tipo de ingredientes, de origem vegetal, os chamados fitoquímicos”.


A especialista explica a razão: “As plantas, ao contrário dos animais, não fogem, portanto, têm de produzir moléculas que lhes permitem garantir a sobrevivência da espécie”, protegendo-as “do dano oxidativo presente na radiação ultravioleta”, por exemplo.

Porque é que isto é importante? “Sendo mais ricos nestas moléculas, os vegetais são fundamentais para o funcionamento do nosso organismo”. Portanto, apesar de “não terem valor energético, têm efeitos vitais para o nosso metabolismo”.


Assim, alimentos como “o pepino, o pimento, os brócolos, a cebola ou o aipo têm características diferentes, mas, no seu conjunto, todos eles são necessários diariamente, nas doses nutricionais adequadas”.


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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Categorias:

Alimentação

Etiquetas:

Produtos naturais

22 Nov 2023 - 09:37

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